Johnny Hooker canta amor e resistência

Para Johhny Hooker cantar é uma forma de luta e de protesto a favor da liberdade. Feminista e carismático, ele movimenta fãs por todo o Brasil. Veja a entrevista com o cantor para a nova edição da revista Conexão C.Kamura!

Por Graziela Salomão

 

Foto Ricardo Toscani

 

“O Johnny Hooker que sobe no palco é mais ousado.” É assim que esse pernambucano de 27 anos se define como artista. E a mudança é, de fato, marcante. Ele deixa de lado a discrição e os óculos de grau e assume, com seu delineador preto e figurino cheio de brilhos (que inclui meia-calça e lingerie fio dental), uma outra persona. À primeira vista, a imagem lembra as performances de Ney Matogrosso, mas as influências, segundo Hooker, seguem mesmo é a tríade David Bowie + Madonna + Caetano Veloso.

 

Um dos destaques da nova cena musical brasileira, o cantor está em alta com seu segundo álbum, chamado “Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!”. “Minha música é uma mistura de vários gêneros. É muito quem eu sou, do Recife onde cresci, dos amores que tive”, conta. Morador do Rio de Janeiro há três anos, suas canções exaltam romances homoafetivos e são uma forma de protesto. “Quando se canta um amor proibido, se pensa em uma sociedade que marginaliza uma forma de amar.” É essa representatividade que ele quer trazer para sua arte. Antes de chegar ao sucesso de agora, Johnny atuou na novela “Geração Brasil”, da TV Globo, e escreveu a trilha do filme “Tatuagem” (2013). Em 2015, conquistou reconhecimento da crítica ao ganhar o 26 Prêmio de Música Brasileira como melhor cantor. Neste bate-papo, ele fala sobre arte, música e beleza. Delicie-se!

 

Você vem de uma família de artistas. Isso te moveu a seguir o mesmo caminho?
Sou um privilegiado por ter nascido nessa família que tinha vocação artística e exercia a arte e o pensamento livre e crítico. Sempre fui muito fascinado por esse lado da minha mãe. Ela era fã de David Bowie, que se transformou em meu grande ídolo. Minhas primeiras memórias são ouvindo Bowie depois dos almoços de domingo. Enquanto minha mãe era mais punk e brincava com essas coisas de gênero, meu pai era o pop que gostava de Prince, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso.

 

Você canta e atua: prefere algum deles?

Minha primeira paixão foi o cinema. Achava que queria ser ator. Essa coisa visual de Madonna e Caetano sempre foi forte. Na adolescência, percebi que era na música que me reconhecia no grupo de pessoas com quem ia andar e que ia amar. Ela começou a fazer parte do meu dia, dos meus dramas, dos meus pensamentos.

 

Como foi seu começo na música?

Aos 15 anos, montei uma banda de rock, coloquei um casaco prateado, pintei meu cabelo de loiro e fizemos acontecer. Ainda tenho esse traço do rock’n’roll e dessa energia imponente, de provocação e de chamar as pes- soas para dançar. Está no meu DNA.

 

Como você classifica sua música: pop, nova MPB?

É uma mistura dessas coisas todas. Tento trazer essas influências de uma maneira moderna, fazendo algo que chame as pessoas para sofrer, dançar, exorcizar. Quero que elas façam daquela música um momento da vida. 

 

Foto Ricardo Toscani

 

A temática de suas músicas é quase sempre o amor e a relação homoafetiva. Muito do que já viveu está nelas?

O legal de escrever canções é que elas são minicontos. Elas levam muito para o lado personalista, mas é uma questão de leitura. Gosto de interpretar papéis e faço isso com a música: posso ser um homem, uma mulher, alguém mais velho. As possibilidades de criação são inúmeras. A vida é muito curta para interpretar o mesmo personagem sempre.

 

Você diria que canta o amor e a dor?

Os amores são pedaços de histórias costurados da vida que vejo e que leio. Tem pedaços reais, outros ficcionais. Lógico que você joga sua dor na música, seus sentimentos, mas não precisa estar realmente sofrendo para fazer uma canção assim. Música é faz de conta, como o teatro. 

 

Cantar é sua forma de protestar?  

Com certeza. Não precisa dizer a palavra homofobia para que as pessoas entendam que é uma doença da sociedade. Analisando meu trabalho percebi que, muitas vezes, coisas ditas no calor da emoção estão cheias de política e protesto. Na afetividade, pode-se ser político, sim. O afeto é o que prende os laços humanos. 

 

O que você quer despertar nas pessoas?

Quero que elas ouçam minha música e exorcizem os demônios delas. Que pensem que o futuro vai ser melhor, mesmo se os avanços forem a passo de formiguinha. Meu desejo é despertar a esperança de viverem a vida com a liberdade de que precisam.

 

A maquiagem é uma forma de se expressar e de cuidar da sua beleza?
No dia a dia não tenho muitos cuidados. Sou meio hippie. A inspiração da maquiagem que uso nos shows vem de divas hollywoodianas, como Elizabeth Taylor no filme “Cleópatra”. O figurino é o mais mágico possível. É para aquela criatura no palco não ser homem, nem mulher. Não tenho muitos segredos de beleza, mas gosto de ler e ver sobre o assunto.

 

Quem é o Johnny de todo dia e quem é o artista?
Um é meio nerd, usa óculos, se veste mais despojado. Aquele que sobe no palco é mais ousado, agressivo. Sou calmo no cotidiano e não gosto muito de expor minha vida social. Quero que meu trabalho fale por mim nas redes sociais. Deixo toda a fúria e a energia sexual de catarse para o palco. 

 

Você é feminista?

Fui criado por uma mulher libertária, feminista, que sempre passou para mim a complexidade em relação aos outros. Sou reflexo de quem me criou. Não é mais do que minha obrigação falar sobre essas coisas e levantar essa bandeira. O que mais quero é um mundo dominado por quem deseja ser livre.

 

Foto: Ricardo Toscani

 

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